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No ônibus ele pensava, pensava na vida, na história que ele
escreveu com cada fôlego de sua vida, sabia, cada vida que é vivida uma nova
história se cria, era meio poeta, meio doutor. Tinha, como todos, suas
qualidades, seus defeitos. O pior defeito era a falta de memória, por causa
disso, sempre que arranjava tempo, relembrava as coisas de seu passado, um
exercício para a memória, vira isso numa revista, achou uma forma de manter a
memória em dia. Sem carro, era chato andar de ônibus, apesar de sempre o fizer,
deveria está acostumado, mas não, toda vez olha para a janela de dos carros e
pensava, “como queria está dirigindo esse ai”, mas era grato, sabia que apesar
de tudo, poderia ficar mais perto das pessoas, no carro sentiria só. O que,
gostava mais era ver o comportamento as pessoas, o rosto de cada um, ele queria
saber o que elas pesavam. A expressão de cada olhar, de cada face, adoraria
saber reproduzir em uma tela algumas delas, poderia até fazê-lo, era fotografo,
mas era tímido. Hoje algo de especial, viu, focou, fitou, não parou de olhar a
garota sentada no fundo do ônibus ou baú, como todos chamavam na cidade, estava
com a câmera, estava sem coragem, a garota, claro já tinha percebido, e ela
ficava tentando fugir do olhar dele, impossível, os olhos dele sempre a
encontrava. No fim chegou perto, ela encolheu-se toda, medo, ele sentia, até
que falou, disse que era fotógrafo e que a achou muito bonita e queria tirar um
foto, apesar de não trabalhar com modelos e tudo, seu trabalho era fotografar
políticos e festas de ricos, ele odiava, queria algo espontâneo, e viu nela,
vencendo o medo ela aceitou, ele tirou, pegou o e-mail passou a foto,
conversou, namorou, casou e na legenda da foto na sala da casa deles estava
escrito “uma joia no fundo do baú”
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