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sexta-feira, 12 de junho de 2015

CONTO Nº1 - O PRESENTE




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-Está chovendo!

Ele disse soltando um riso singelo no canto da boca

-Tava sol quando entramos

Ela disse olhando envolta, numa mistura de espanto e admiração

-O tempo passa rápido quando estamos fazendo compras

Disse ele tentando levantar uma razão para o fato, e, assim retira-la desse estranho transe que se encontrava

-É tão impressionante ver como as coisas mudam de repente.

Disse olhando-o com seus olhos verdes, que com o clima frio e escuro estavam ficando com tons de mel.

-Eu sei, eu sei, mas temos que nos apresar, falei para não gastar tempo demais na sessão de cosméticos.

Disse empurrando o carinho cheio de compras

-Você que é um grosso, pedindo sempre para “irmos logo, senão vamos pegar transito”

Ele para o carrinho, fita-a com seus olhos castanhos escuros de tal modo que ela se desconcerta e começa a fugir do olhar dele.

-Não vamos discutir, né? Você sabe que temos um compromisso e não podemos fazer feio. Afinal você sabe que é muito importan...

-Eu, eu sei, já entendi tá não quero ouvir de novo esse seu discurso chato de “compromisso, nhenhenhe”

-Então vamos logo.

Ele volta a empurrar, pega a chave do carro e retira o alarme. Ela o ajuda a colocar as compras no porta-malas. Um silêncio toma conta, entre eles somente o som da chuva a cair cada vez mais forte e os ruídos do carro a ligar.

-Vou colocar o rádio.

Ela disse, tentando quebrar com o silêncio mórbido de um clima frio pesado fúnebre que os envolvia.

A viagem foi tranqüila, apesar do barulho das águas no carro e as músicas mais chatas que Ele ouvia, mas Ela adorava-as.

Tinha já uns 2 anos de casados, uns 3 anos de relacionamento, uns 4 anos de paixão ,uns 5 de amigos, uns 6 de colegas, uns 7 de conhecidos , uns 8 de visinhos e agora, ele, 26, ela, 25 têm uma vida juntos e sabem que sempre alguém tem que perder, aprenderam isso de duas formas, conselho dos pais e na vivencia das brigas de casal, parece que amadureceram nesse ponto, mas sempre há algo novo para acrescentar

Chegaram, como já de rotina, que começou a 2 anos quando compraram o apartamento, colocaram o carro de 2 anos, presente de casamento, na garagem subterrânea, muito boa para a segurança e proteger da chuva, fato esse que ajudou na hora da compra do apartamento, financiado em 5 anos, juros baixos, ele sabia escolher o melhor crédito, contador, formado, feliz, a mulher dos sonhos, perfeito, até a chuva que caia era providencial, uma desculpa para o atraso,olhava pra sua musa, ela é linda, sempre dizia consigo, homem de sorte, lembrava de todos os obstáculos passados e ria, a felicidade o comovia, até chorava, como Deus pode ser tão bom comigo, o presente estava no presente, nem Papai Noel acertaria.

Compras de natal, o terceiro natal em família, não tinham filhos, os pais dele em Florianópolis os dela, presente antecipado, viajar para Nova Iorque, ela escolheu, ele pagou,queria um natal só com ela, o presente era está presente ao lado dela.

Um metro e setenta e cinco, levando a maior parte das compras, ele, nome simples, João, sobrenome, Adalberto, estranho, jeito de andar, ela ri, gosta dele mesmo assim, ajuda a levar as outras coisas, um e sessenta e seis, sem salto, ama salto, pouco batom, pouca maquiagem, muito,...,salto, cabelos soltos, cacheados, levemente castanhos, sem pintar, ele gosta dela assim, só tem medo do salto, porque isso tudo, se cair daí vai se machucar, ficar mais alto que eu, só para trocar a lâmpada para mim?, que amor, que lindo casal.

Ele pardo, ela branca, ambos, lasanha, prato do natal, lasanha, desenho favorito, Garfield, motivo, LASANHA. Tinham que sair, ela vestido longo, ele terno, sempre terno. Cabelo feito, maquiagem, o mínimo, perfume, reservas, jantar a dois, luz de velas, restaurante chique, frio da noite na rua, calor do amor em casa.




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